Gabriela Maraccini, da CNN
O ex-boxeador José Adilson Maguila morreu aos 66 anos nesta quinta-feira (24). A informação foi confirmada pelo Instituto Maguila. O lutador foi diagnosticado anos atrĂĄs com encefalopatia traumĂĄtica crônica (ETC), também conhecida como demĂȘncia pugilística, que teria sido provocada por sua atuação no boxe, com repetidas lesões na cabeça.
A encefalopatia traumĂĄtica crônica é uma degeneração progressiva de células cerebrais causada por diversas lesões na cabeça. É comum em atletas, principalmente lutadores e jogadores de futebol, mas também pode ocorrer em soldados que foram expostos a uma explosão, de acordo com o Manual MSD, referĂȘncia médica publicada pela empresa farmacĂȘutica americana Merck & Co.
"Ao longo da carreira do boxeador, vão acontecendo pequenos traumas no cérebro resultantes dos impactos e esses microtraumas vão gerando alterações cerebrais que geram processos inflamatórios, induzindo a uma doença neurodegenerativa", explica Marcel Simis, neurologista do Hospital Albert Einstein, à CNN.
Segundo o especialista, o processo neurodegenerativo é progressivo e os sintomas costumam surgir tardiamente, cerca de 10 a 15 anos depois dos traumas. "É um processo que tende a acontecer e ir se agravando ao longo do tempo", acrescenta.
Os sintomas da encefalopatia traumĂĄtica crônica, ou da demĂȘncia pugilística, podem incluir:
"Um dos sintomas mais comuns é a alteração no humor. O paciente pode ter sintomas de ansiedade e de depressão. Quando evolui para um quadro de demĂȘncia, podem haver outras alterações cognitivas associadas, como perda de memória, dificuldade de atenção, mudanças de comportamento, podendo tornar-se mais agressiva ou impulsiva", afirma Simis.
O Alzheimer é um dos principais tipos de demĂȘncia e, geralmente, a idade avançada é um dos principais fatores de risco. No caso da demĂȘncia pugilística, os primeiros sintomas podem acontecer em pessoas mais jovens, principalmente entre aqueles que sofrerem traumas cranianos repetitivos.
"A história do paciente e algumas características diferem a demĂȘncia do boxeador do Alzheimer", afirma o neurologista.
A causa do Alzheimer ainda é desconhecida, mas acredita-se que a doença se desenvolva por fatores genéticos, de acordo com o Ministério da Saúde.
Segundo Simis, não existe um tratamento específico para esse tipo de demĂȘncia. "Por vezes, é possível tratar os sintomas. Então, podem ser usados antidepressivos para pacientes com sintomas de depressão, por exemplo. Para sintomas como agressividade, impulsividade e perda de inibição, também existem medicamentos específicos para lidar com esses sintomas", afirma.
Por vezes, em alguns casos, podem ser utilizados medicamentos comuns no tratamento do Alzheimer.
De acordo com o neurologista, a principal forma de prevenir demĂȘncia pugilística é evitar traumas cranianos. "Nos Estados Unidos, houve alterações nas regras do futebol americano justamente para evitar o trauma de crânio pelas complicações que estavam acontecendo com os jogadores", exemplifica.
"Existe essa discussão para outros esportes, incluindo o nosso futebol, descrito como um fator de risco para essa condição, no caso, por cabecear a bola", acrescenta. "Então, evitar esse tipo de esporte é a principal prevenção. Quando isso é inevitĂĄvel, não existe um tratamento profilĂĄtico e não existe um tratamento para reverter essas lesões", afirma.
Fonte: CNN BRASIL